terça-feira, 1 de novembro de 2011

AUTISMO INFANTIL: UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA TEORIA, PRÁTICA E AVALIAÇÃO

                    Primeiro Passo: A Teoria
O autismo infantil é um transtorno invasivo do desenvolvimento global definido pela presença de desenvolvimento anormal em todas as áreas de interação social, comunicação e comportamento restrito, repetitivo e estereotipado, que se manifesta antes da idade de três anos com prevalência três ou quatro vezes maior em meninos do que em meninas. Resultados de estudos epidemiológicos, genéticos, neurofisiológicos e neuropatológicos demonstram, convincentemente, a existência de disfunções cerebrais físicas, que podem ser causadas por uma série de agentes etiológicos pré, peri ou pós-natais, como, por exemplo, infecções, anoxia, traumatismos ou anormalidades metabólicas ou genéticas.
A grave perturbação da capacidade de participar de uma interação social, ausência de criatividade e fantasia nos processos de pensamento e a falta de resposta emocional às iniciativas são alguns dos problemas centrais do autismo.
Ademais, é freqüente a criança com autismo apresentar uma série de outras condições não específicas, tais como: medo/fobias, perturbações da alimentação e do sono, ataques de birra e agressões, dificultando o seu manejo técnico.
O curso da doença é grave. As manifestações específicas dos déficits característicos mudam à medida que as crianças crescem, mas os déficits continuam através da vida adulta com um padrão amplamente similar de problemas na socialização, comunicação e interesse.
Atualmente, não se conhece qualquer método de cura para essa anormalidade do desenvolvimento. Mas é, no entanto, possível que profissionais, trabalhando em conjunto com pais ou responsáveis, ajudem uma criança autista a aprender algumas regras da vida social para que possa lidar um pouco melhor com um mundo que lhe parece tão confuso. Trata-se, sem dúvida, de um trabalho difícil, mas gratificante.

Segundo Passo: A Prática
Os mais recentes estudos do desenvolvimento normal das crianças encontram fortes indícios que um bebê normal nasce com uma capacidade intrínseca de reconhecer a importância dos outros seres humanos, em outras palavras, ele precisa disto para saber que faz parte da espécie humana e para desenvolver comunicação não-verbal e imaginação social .
Um bebê normal contribui, tanto quanto a mãe e outras pessoas encarregadas de seus cuidados, para o crescimento da interação social. Esta habilidade inata tem de depender tanto do funcionamento cerebral normal quanto de todas as outras habilidades do desenvolvimento.
Tais habilidades estão gravemente perturbadas ou até totalmente ausentes no autismo e outros transtornos invasivos do desenvolvimento. Pesquisadores estão começando a formular hipóteses quanto ao local no cérebro onde essas habilidades sociais são organizadas. Tudo indica que são centros abaixo do nível das áreas mais recentes do córtex, porque o comportamento social é importante para outras espécies além da humana.
Portanto, o problema no autismo não é ausência do desejo de interagir e comunicar-se, e, sim, ausência da habilidade para fazê-lo.

As pessoas autistas não são destituídas de emoções. Vivem intensas sensações de sofrimento ou alegria, ansiedade, raiva ou satisfação. O problema é que devido à falta de habilidades sociais, as crianças autistas não aprendem a controlar essas emoções de maneira socialmente aceitável. Para piorar o problema, cada pessoa autista tem seu próprio modo de demonstrar sentimentos que pode ser muito difícil de interpretar.

Todas as pessoas autistas funcionam melhor se seu mundo estiver estruturado e organizado, isto é, da forma mais previsível possível.
Um professor, que convive com crianças autistas, vê, imediatamente, os problemas e as vantagens da rotina fixa. Uma vez aceita pela criança, ela resistirá, insistentemente, a qualquer nova mudança. Assim, professores, pais ou responsáveis, precisam planejá-las com antecedência, induzindo-as lentamente.
Dessa forma, eventualmente, as crianças aprendem a associar seus professores a um clima de tranqüilidade e segurança e até fonte de consolo e força em momentos de mudanças.
A maioria das crianças normais tentam, ativamente, envolver os outros em suas atividades. As crianças autistas não fazem essas tentativas de modo que, facilmente, os professores se sentem desencorajados e deixam as crianças envolvidas nas atividades repetitivas de sua preferência. Mas, para ajudar um aluno, os professores devem decidir tomar a iniciativa.


                  Terceiro Passo: A iniciativa
Neste terceiro e último passo, vamos aprender a atuar nas atividades escolares com crianças com autismo.
O primeiro exemplo de atividade: A música. Ela é, geralmente, uma das principais fontes de gratificação para uma criança autista. A música pode ser usada para encorajar uma interação. Por possuírem uma memória fantástica, as crianças com autistas comumente, são capazes de repetir com precisão canções que ouviu e lembrar da freqüência precisa de notas musicais.
As crianças com autismo respondem a detalhes específicos, mas ignoram o contexto geral. Isto é vantajoso em tarefas como, por exemplo: procurar formas escondidas numa figura, armar quebra-cabeças, realizar o teste dos blocos de Koch ou repetir seqüências de sílabas sem sentido.
Psicólogos experientes demonstraram que as crianças autistas são bem cooperativas quando se inicia a apresentação das tarefas por itens de nível suficientemente baixo. Elas ficam aflitas com o fracasso e tornam-se não cooperativas quando de início são solicitadas a desempenhar tarefas fora de suas capacidades.


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à Para conhecimento:
AUTISMO E RETARDO MENTAL ASSOCIADO
- A cada 100 alunos autistas – 50 apresentam retardo mental grave ou profundo (QI de 0 a 34)
- A cada 100 alunos autistas – 25 apresentam retardo mental moderado (QI de 35 a 49)
- A cada 100 alunos autistas – 15 apresentam retardo mental leve (QI de 50 a 69)


            Propriedades dos objetos inanimados como, por exemplo: forma, tamanho, cor e textura são simples, imutáveis e parecem ser, atraentes para crianças autistas. O alívio dessas atividades vêm da manipulação de objetos e da repetição de rotinas fixas.
Quanto ao ambiente, este deve estar agradável e confortável, com enfeites elaborados e equipamentos interessantes e atraentes, mas que não tornem o ambiente nem confuso e nem hiperestimulante. O nível geral de ruídos deve ser mantido o mínimo possível.
Muitas crianças autistas sentem necessidade, de tempos em tempos, retirarem-se das atividades de grupo. Parece que algumas usam esta estratégia para lidar com aumento de tensão. O ideal será dispor de lugares adequados para onde a criança possa ficar quando sentir necessidade de ficar sozinha.
A programação diária deve ser estruturada de forma simples, familiar e previsível. As mudanças devem ser introduzidas devagar e com cuidado. Assim, a programação educacional é organizada e estruturada de modo que a criança autista sempre saberá o que vai acontecer depois.
Para a criança com graves comprometimentos e para aquela com menos idade, o primeiro passo para a atividade pode ser, por exemplo, a estimulação em movimentar-se braços ou pernas, de forma que se fizer necessário para a realização da tarefa.
A maioria das crianças autistas responde melhor quando o material é apresentado na forma visual do que na forma auditiva. Por exemplo: o desenvolvimento de trabalhos com números, para ilustrar historias e transmitir a idéia de tempo pode ser uma boa pedida.

O professor deve aproveitar ao máximo as situações do dia-dia do aluno autista. Por exemplo: casa e suas peças essenciais, como: cozinha, quarto e banheiro. O fato da alimentação, das compras, dos meios de transporte, da economia, do país e da cidade em que se vive, da cultura, dos costumes etc. Tudo isso se transforma em oportunidades de ensino, mesmo que de forma mecânica, encoraja uma criança autista a usar na prática os conhecimentos adquiridos na escola.
Comportamentos positivos e construtivos por parte da criança devem ser reforçados através de atenção e elogios. É muito importante, também, assegurar-se que a criança não está sendo submetida a excesso de pressão.  Um manejo sensato é sempre preferível e tem maiores probabilidades de ser bem-sucedido.
Não podemos nos esquecer, finalmente, de um detalhe crucial para o bom desenvolvimento pedagógico da criança com autismo: a comunicação entre os pais, professores e equipe de saúde. Vejamos a seguinte proposta:
1- pais e terapeutas devem trabalhar em equipe;
2- a interação é feita de maneira lúdica;
3- as respostas obtidas são recebidas com entusiasmos;
4- estabelece-se um critério de sucesso garantido;
5- procura-se identificar o acervo positivo da criança e o dos pais;
6- tenta-se desenvolver as diversas habilidades da criança;
7- tenta-se colocar o que acabou de aprender dentro de um contexto útil;
8- lança-se mão da ecolalia;
9- usam-se de todos os meios visuais, auditivos e tácteis;
10- deve-se esperar respostas inconscientes e frustrações diversas.
Devemos ter conosco, acima de tudo, o respeito para com as emoções e os desejos das crianças e dos pais, buscando sempre estabelecer o vínculo com a criança, vencendo barreiras pessoais e dando o melhor de nós mesmos.
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Referência:
Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10 :   descrições clínicas e diretrizes diagnósticas /   tradução e prefácio Dorgival Caetano
Porto Alegre :   Artes Médicas,   1993.

Autismo e outros atrasos do desenvolvimento:   uma atualização para os que atuam na área: do especialista aos pais  E. Christian Gauderer.
Brasilia :   Corde,   1992.

PRODUÇÃO DO TEXTO:
EQUIPE DE ORIENTAÇÃO ESCOLAR
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
SERVIÇO DE PSICOLOGIA

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